Sistemas de condução de plantio da uva valorizam negócios e criam paisagens consideradas patrimônios

O que a paisagem tem a ver com os negócios de uma região? Tudo. No caso das regiões vitícolas do Brasil, por exemplo, as belas paisagens das serras gaúchas e do Sudeste já influenciam fortemente na decisão de compra do consumidor, seja ele intermediário ou final, sendo cada vez mais valorizadas por estudiosos, empresários e turistas.
Segundo estudo feito em conjunto pela IBRAVIN / EMBRAPA / IBRAF / MAPA*, as paisagens dos vinhedos contam com três aspectos importantes já em desenvolvimento: o reconhecimento como Patrimônio da Humanidade, o seu aproveitamento para a exploração do enoturismo nessas regiões, como acontece em Caxias do Sul (principal região produtora de uvas para processamento do país), bem como a formação de especialistas para garantir a manutenção de forma sustentável.
Sistemas de condução da videira – artistas da natureza
Mas quem são os responsáveis pelas incríveis landscapes do vinho? Os diferentes formatos das plantações de uva que as tornam quase sempre deslumbrantes aos olhos dos turistas, são resultado dos conhecidos ‘sistemas de condução de plantio’. Combinados a áreas planas ou acidentadas, de preservação ambiental ou mesmo de cultivo de outros frutos, esses sistemas permitem diferentes disposições das videiras, em tramas que causam diferentes e belos impactos visuais.

Para um cultivo satisfatório, a videira prescinde de algum suporte que distribua de forma espacial a diversidade de sua estrutura e de suas partes perenes. Esta distribuição aliada a uma sustentação adequada constituem o seu sistema de condução. Entre os mais utilizados em climas temperados estão o ‘latada’ e o ‘espaldeira’, como a seguir:
Latada (fonte: Cadastro Vitícola-RS / IBRAVIN)
Também chamado de pérgola. Mais utilizado na Serra Gaúcha, RS e no Vale do Rio do Peixe, SC. Na América do Sul, tem alguma expressão na Argentina, Chile e Uruguai. Na Europa, aparece em determinadas regiões vitícolas, especialmente na Itália, com denominações e formas diferenciadas. O dossel é horizontal e a poda é mista ou em cordão esporonado, conforme a variedade de videira. As varas são atadas horizontalmente aos fios do sistema de sustentação do vinhedo. As videiras são alinhadas em fileiras distanciadas, geralmente de 2,50m.

Principais Vantagens
> Proporciona o desenvolvimento de videiras vigorosas, que podem armazenar boas quantidades de material de reserva, como o amido;
> Permite uma área do dossel extensa, com grande carga de gemas. Isto proporciona elevado número de cachos e alta produtividade;
> Em função de sua produtividade, possui uma boa rentabilidade econômica especialmente em pequenas propriedades;
> É de fácil adaptação à topografia de regiões montanhosas, como a Serra Gaúcha e o Vale do Rio do Peixe;
> Facilita a locomoção dos viticultores, que pode ser feita em todas as direções.
Principais Desvantagens
> Os custos de implantação e de manutenção do sistema de sustentação são elevados;
> A posição do dossel e dos frutos situados horizontalmente acima do trabalhador causa transtornos à execução das práticas culturais;
> A posição horizontal do dossel e o vigor excessivo das videiras podem causar sombreamento, afetar negativamente o microclima, a fertilidade das gemas e a qualidade da uva e do vinho;
> O elevado índice de área foliar, se o dossel não for bem manejado, pode proporcionar maior umidade na região dos cachos e das folhas, o que favorece o aparecimento de doenças fúngicas;
> O sistema de sustentação necessita ser sólido para suportar o peso do dossel e da produção e o impacto do vento;
> A área máxima recomendada de cada parcela de um vinhedo conduzido em latada é de 4 ha.
Espaldeira (fonte: Cadastro Vitícola-RS / IBRAVIN)
Um dos mais utilizados nos principais países vitivinícolas. No Rio Grande do Sul, é adotado especialmente na Campanha e na Serra do Sudeste e por algumas vinícolas da Serra Gaúcha. As videiras conduzidas em espaldeira tem dossel vertical e a poda é mista ou em cordão esporonado. As varas são atadas horizontalmente aos fios da produção do sistema de sustentação do vinhedo. Se necessário, os ramos são despontados. Normalmente, deixam-se duas varas/planta quando a poda é mista; em cordão esporonado, há dois cordões/planta. A distância entre as fileiras varia de 2,00 a 2,50 m, mas se a altura do dossel vegetativo for de 1,00 m a captação da radiação solar é maximizada com fileiras distanciadas de 1,00m.
Principais Vantagens
> Adapta-se bem ao hábito vegetativo da maior parte das viníferas;
> Os frutos situam-se numa área do dossel vegetativo e as extremidades dos ramos em outra: isso facilita as operações mecanizadas, como remoção de folhas, pulverizações dos cachos e desponta;
> Apresenta boa aeração;
> Pode ser ampliado paulatinamente, pois a estrutura de cada fileira é independente;
> O custo de implantação é menor que o do ‘latada’;
> É atrativo aos olhos, especialmente quando se faz a desponta.
Principais Desvantagens
> Apresenta tendência ao sombreamento, portanto não é indicado para cultivares muito vigorosas ou para solos muito férteis;
> A densidade de ramos geralmente é muito elevada;
> Se a distância das fileiras for maior que 3,00 m, a área de superfície do dossel vegetativo será pequena;
> Como consequência do exposto no item c, é necessário compensar a perda exagerada da produtividade com elevada carga de gemas o que aumenta o sombreamento e diminui a qualidade da uva e do vinho.

Paisagem agrega valor ao produto
Por causa da globalização da economia, a preservação dos patrimônios cultural, arquitetônico e paisagístico dos locais de produção da uva, assim como as ferramentas utilizadas, tornaram-se uma preocupação para os gestores dos vinhedos. O advento também fez com que as comunidades e os consumidores em geral passassem a compreender o uso da paisagem como forma de agregar valor aos produtos.
Segundo dados de 2015 do Cadastro Vitícola do Rio Grande do Sul (promovido pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, o Instituto Brasileiro do Vinho – IBRAVIN, pela Secretaria da Agricultura, Pecuária e Irrigação do Rio Grande do Sul e EMBRAPA), o sistema de condução mais utilizado no estado foi o ‘latada’, em uma área de plantio de 36.576,75 hectares, em 85.634,53 pés e 731.263,30 toneladas.
Em segundo lugar aparece o sistema ‘espaldeira’, utilizado em uma área de 3.319,94 hectares, em 10.008,44 pés e 21.670,44 toneladas. Em terceiro e quarto lugares aparecem, respectivamente, os sistemas ‘Y’ (foto abaixo), em uma área de 368,80 ha, 966,52 pés e 4.516,77t, e o ‘Lira’ em uma área de 70,7 ha, 199,89 pés e 779,74t.
Para saber mais sobre o Cadastro Vitícola – RS acesse http://bit.ly/2wYo3YY

Vista geral da videira ‘Niagara Rosada’ conduzida em “Y” com telado plástico
Texto: Claudia Megre Rachid
*Fontes de pesquisa: Cadastro Vitícola – RS do IBRAVIN (Instituto Brasileiro do Vinho) / EMBRAPA / IBRAF / Ministério da Agricultura, Pecuária e Irrigação do Rio Grande do Sul / MAPA (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento).